COMO CUIDAR DOS FERIDOS?

Como cuidar dos feridos?

Nada tem maior poder de ferir o homem do que o seu próprio pecado. Com a entrada do pecado na história humana, todos passaram a sofrer, pois, afinal, “o salário do pecado é a morte”. O pecado tornou-se parte integrante da natureza humana. A boa notícia é que todos quantos se reconciliam com Deus, por meio de Jesus, rompem as cadeias do pecado pelo poder do Espírito Santo.

Todavia, não eliminamos completamente a presença do pecado de nossa vida, e, por isso, vez por outra, na jornada, pode acontecer de o cristão escorregar no pecado como um acidente de percurso. Isso ocorre porque ainda somos pecadores. Explico recorrendo à máxima agostiniana: “Não sou pecador porque peco. Peco porque sou pecador”.

A grande questão que surge, quando um cristão peca, é a seguinte: Como tratar esse cristão? Antes de mais nada, é necessário dizer que aquele que caiu no pecado está ferido. Ninguém se envolve com o pecado e sai ileso. O pecado sempre machuca aquele que cai em sua rede. Diante disso, devemos recorrer ao que Paulo escreveu à igreja da Galácia: “Irmãos, se alguém for surpreendido nalguma falta, vós, que sois espirituais, corrigi-o com espírito de brandura; e guarda-te para que não sejas também tentado” (Gálatas 6.1).

          Temos nesse texto todos os princípios necessários para cuidar de um cristão ferido pelo pecado:

  1. Nunca se esqueça que o pecador ferido é seu irmão.

Paulo inicia o versículo dizendo “irmãos”, e esses irmãos deveriam tomar cuidado para que também não caíssem em tentação. Na caminhada, alguns irmãos caem nas armadilhas do pecado. Pois bem, ao lidar com o pecador ferido, não podemos nos esquecer de que ele é nosso irmão. O tratamento deve levar em consideração o fato de que estamos lidando com um irmão, e não com qualquer pessoa.

O irmão do filho pródigo se esqueceu de que era o seu irmão quem havia voltado para casa. Por isso, disse ao pai com muita ira: “Vindo, porém, esse teu filho…”. O pai, com muito amor, trabalha no coração do filho mais velho para que sua ira passasse e, na conversa, lembra-o de que quem voltara não era apenas o seu filho, mas também o seu irmão. Por isso disse: “…era preciso que nos regozijássemos e nos alegrássemos, porque esse teu irmão…”. Antes de cuidar do pecador ferido, lembre-se de que ele é seu irmão.

  • Nunca se esqueça que todos estão sujeitos a queda.

Paulo faz questão de lembrar que o pecado é uma realidade que age contra todos. Por isso, ele nos desafia a viver em prontidão quando diz: “guarda-te”, e deixa clara a possibilidade da queda atingir qualquer um, ao afirmar: “se alguém for surpreendido nalguma falta”. Diante disso, devemos andar com a barba de molho e oferecer um tratamento santificado aos nossos irmãos.

Não trate os outros olhando de cima para baixo. Não pense que você está acima do bem e do mal. Não pense de si além do que convém. Isso deveria nos lembrar de outros textos, como, por exemplo: “…e, com a medida com que tiverdes medido, vos medirão também” (Mateus 7.2). O senso da nossa própria fraqueza deveria nos levar a ser pacientes com os que caíram.

  • Nunca se esqueça de que corrigir é preciso.

Paulo é muito claro ao dizer: “corrigi-o”. Esse ponto complementa o anterior, pois nos lembra de que todos estão sujeitos à queda, mas também de que todos devem ser corrigidos, restaurados e aperfeiçoados. A correção faz parte da cura do ferido: “Porque o Senhor corrige a quem ama… e toda disciplina, com efeito, no momento não parece ser motivo de alegria, mas de tristeza; ao depois, entretanto, produz fruto pacífico…” (Hebreus 12.6,11). A correção produz cura.

  • Nunca se esqueça de tratar com brandura aquele que já foi tratado com dureza.

A ordem apostólica é que tratemos “com espírito de brandura”. Quem já foi alvejado pelo próprio pecado não precisa de mais sermões, de mais dedos em riste, de mais discursos que produzem culpa, de mais censuras, de mais críticas assassinas. Afinal, tudo isso já veio à tona quando o seu pecado foi descoberto. Deixemos a acusação com quem sabe fazê-lo: o diabo.

O que o irmão precisa é de brandura, afabilidade e doçura. Precisa encontrar o abraço de um irmão. Isso não significa inocentar o culpado, mas sim não esmagar a cana quebrada. O trato brando já é mais que suficiente para soerguer o ferido.

  • Nunca se esqueça de cuidar de você, enquanto cuida dos outros.

O apóstolo Paulo encerra o assunto com o alerta: “guarda-te para que não sejas também tentado”. Corremos o risco de cair nos mesmos erros daqueles que ajudamos. Não estamos isentos da tentação só porque corrigimos os outros. Vale lembrar o alerta bíblico: “Aquele, pois, que pensa estar em pé, veja que não caia” (I Coríntios 10.12).

CONCLUINDO, observe que o grupo chamado para cuidar dos feridos é composto de irmãos espirituais. Paulo é claro ao dizer: “vós, que sois espirituais”. Cuidar de quem caiu é uma tarefa para quem vive na dimensão do Espírito. Pessoas carnais, diante de uma situação de pecado, podem subestimar a gravidade, estimular o erro, apedrejar o ferido etc. Por isso, antes de tentar ajudar alguém, coloque sua espiritualidade à prova.

A espiritualidade que temos no coração deve se manifestar no momento em que nossos irmãos mais precisam. Não podemos ser levianos com quem está prostrado na lona da vida. O grupo capacitado para ajudar e cuidar dos feridos é formado pelos espirituais. Assim, além de o texto nos chamar para fora do pecado, ele também nos desafia a viver uma vida espiritual, isto é, andar no Espírito (Gálatas 5.16).

Vivendo assim, colocaremos por terra a triste alcunha de que somos o único exército do mundo que abandona seus feridos pelo caminho.

Deus nos abençoe!

Soli Deo Gloria

Welton Cardozo

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